08 abril 2012

orelha de "Deus ex machina", por Italo Moriconi

Com seus contos, Victor Paes reforça de maneira bastante pessoal uma nova tendência na ficção brasileira, que aponta para a revalorização do caráter encantatório da literatura. O leitor é que sai no lucro, energizado pelo prazer de ler proporcionado pelas narrativas deste Deus ex machina. Se para Cortázar o conto devia ser escrito e lido na velocidade de um nocaute, temos aqui vinhetas narradas na velocidade da luz (ou dos neutrinos). O mais notável é que a vertigem provocada por elas resulta dos nada desprezíveis recursos estilísticos e poéticos manejados pelo autor, com deslizamentos (metonímicos), elipses e alusões produzindo o mencionado elemento encantatório, que pode vir ligado ao perturbador ou mesmo ao melancólico. Habilidade, originalidade, rigor: no aparente desalinho deste contar, há sempre uma linha a perseguir. Em geral, são fios de relações familiares que se enredam e desenredam, misturando imaginação e realidade. E assim chegamos à zona de intelecção que é tocada e aberta pelos contos de Victor Paes: o campo onde se superpõem fato real, fato imaginado, pura impressão. O esforço de captar o poder do imaginado me parece constituir outra marca presente na cena literária de agora (2011), o que torna estes contos, além de originais, também necessários.

Italo Moriconi

Nenhum comentário: